quinta-feira, outubro 21, 2010

Duvidas sobre o mal, milagres e livre-arbítrio

Certa vez, quando perguntaram a Jesus quem havia pecado, Ele respondeu que o homem nascera daquele jeito [cego] para ser manifestar a glória de Deus. Ou seja, Deus colocou o problema apenas para se manifestar a glória dEle? É Deus quem coloca a dor, a doença, para, depois, curar ou matar? Jesus disse coisas como: “Não se preocupem com o dia de amanhã.” Mas Ele Se preocupou tanto que chegou a suar sangue! Outra coisa que me incomoda é a respeito de milagres, da probabilidade matemática. Cálculo simples: dois milhões de pessoas têm câncer, duas são curadas do nada. Milagre? Matematicamente falando, sim. Mas milagres acontecem aos que não são cristãos também... Mas o que mais me incomoda mesmo é sobre o livre-arbítrio. Como entender isso? – J.

Prezado J., primeiramente, entendo que não podemos simplificar tanto assim uma realidade que é muito mais complexa. Assuntos como livre-arbítrio, determinismo, milagres, etc. não podem ser resolvidos numa frase, num parágrafo e talvez nem mesmo em milhares de páginas. Fé não é confiar no que não vemos? Não é ter certeza do que esperamos? (Hebreus 11:1).

Certas expressões bíblicas não podem ser entendidas fora de seu contexto (o pensamento e a cultura judaico-oriental). Para os judeus, Deus era responsável por aquilo que Ele não impedia. Ex.: Foi Deus quem endureceu o coração de faraó ou foi o próprio faraó, com a permissão de Deus, já que Ele não força a vontade de ninguém? Assim, o cego de nascença nasceu assim por uma fatalidade deste mundo de pecado (como tantos outros nascem com tantos outros problemas). Mas, no caso dele, uma maravilha seria operada porque ele creu no Senhor. Como ocorreu com Jó, muito tempo antes, esse cego teria a honra de representar bem o caráter e as obras de Deus. Isso deve ser entendido à luz do grande conflito e levando em consideração a eternidade.

Todo mal no Universo provém de Satanás, o originador do mal. O que Deus faz, frequentemente, é reverter o mal em bem para nós. Assim, muitas vezes, Deus Se vale de uma doença (que ele permite, mas não causa) para nos conduzir de volta ao caminho da salvação ou para modelar nosso caráter. Curiosamente, de modo geral, aqueles que passam por uma dor encaram o problema de modo diferente daqueles que apenas observar quem sofre. Os mais revoltados com Deus por causa da existência do sofrimento são aqueles que apenas “filosofam” sobre o assunto. Não fosse assim, países pobres como os da África teriam multidões de ateus, enquanto países desenvolvidos da Europa seriam majoritariamente crentes. Mas a realidade é justamente o oposto disso.

Jesus suou sangue não por desconfiar do cuidado de Deus e por Se preocupar com o dia de amanhã. Ele passou por essa pressão imensa porque levou sobre Si nossos pecados. Não podemos comparar o que Ele experimentou com aquilo que nós experimentamos. Jesus não nos daria um conselho que Ele mesmo não vivesse. A agonia do Getsêmani e da cruz é algo singular experimentado por um Deus-homem que assumiu a culpa dos pecadores. E é justamente pelo que Jesus conquistou na cruz que podemos ter ainda mais certeza de que Deus nos ama e tem em vista o nosso bem – por isso podemos confiar nEle e descansar quanto ao futuro.

Quanto aos milagres, sem dúvida eles também acontecem na vida dos que não creem. A concepção e o nascimento são milagres. O nascer e o pôr do sol (na verdade, a rotação sincrônica da Terra) são milagres. A manutenção da proporção dos gases atmosféricos respiráveis – outro milagre. O funcionamento e a existência do Universo – tremendo milagre! Isso mostra a misericórdia de um Deus que manda chuva e sol sobre crentes e não crentes, sobre justos e injustos (Mateus 5:45). Deus nos mantém vivos e nos convida a uma vida de comunhão com Ele.

Mas quer saber qual é, para mim, o maior milagre? Uma vida transformada por Deus. Um ser impuro tornado puro. A índole má transformada num temperamento manso e submisso à vontade de Deus. Isso é milagre! Já vi curas e coisas maravilhosas que não poderiam ser explicadas de outra maneira senão pelo poder sobrenatural de Deus, mas isso não chega perto dos milagres que presenciei na vida de seres humanos que se deixaram transformar por Deus.

Finalmente, o livre-arbítrio. Creio que temos a liberdade de escolher entre a vida eterna e a morte eterna – e agradeço a Deus porque minhas escolhas se limitam a dois caminhos, senão, como ser humano limitado que sou e com tendência a más escolhas, eu me perderia na confusão, caso houvesse mais opções. Essas são as duas grandes escolhas que todo ser humano tem que confrontar. Mas há também as pequenas escolhas diárias que acabam afetando em alguma medida as grandes escolhas. Exemplo: Quem namorar? Com quem casar? Que amizades cultivar? No que trabalhar? Que faculdade cursar? O que comer? O que assistir na TV? Que músicas escutar? Etc. São decisões menores que acabam afetando as maiores, na medida em que nos aproximam ou afastam de Deus. E é Deus, o Espírito Santo, que nos influencia para as boas decisões, se nos mantemos próximos dEle por meio da oração, do estudo da Bíblia e do cultivo de bons hábitos de vida e de pensamento.

Mesmo em meio às nossas dúvidas e incertezas, temos que responder como Pedro: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna” (João 6:68). Se abandonarmos a Deus, para onde iremos? Temos que confiar nEle, pelas provas que Ele já deu de que nos ama e está nos conduzindo – com a nossa permissão – para a vida eterna. Lá todas as nossas dúvidas serão esclarecidas e nosso sofrimento terá fim.

Mas temos que chegar lá...

(Michelson Borges, jornalista e mestre em Teologia)

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